Me Pegou!
Para Navegar
A Bruxa, cujo título original é The Witch é um filme de terror psicológico lançado em 2015, dirigido por Robert Eggers.
A história se passa na Nova Inglaterra do século XVII e segue uma família puritana que enfrenta forças sobrenaturais e a desintegração de suas relações familiares.
Minha Experiência
A Bruxa me pegou porque assistir ao filme foi uma experiência intensa e duradoura.
As cenas do filme, com frequência, retornam a minha mente de maneira vívida. A Bruxa fala de exílio, rejeição, sobrevivência, família, abandono, culpa, negação, religião, arrependimento, medo, beleza, esperança, sexualidade, julgamento, coragem, manipulação, natureza, mistério, competição e diversos outros aspectos que constituem a condição humana.
Por isso, apesar de A Bruxa ser ambientado na Nova Inglaterra do século XVII, o filme é contemporâneo.
É possível perceber o amor que permeia os laços familiares entre os protagonistas. Ao mesmo tempo, as circunstâncias, trazidas no decorrer do enredo pela comunidade de caráter religioso e pela floresta exuberante que tornou-se o destino inevitável da família, são implacáveis.
A Bruxa exige de nós certo desprendimento, pois, é preciso ir além das literalidades. A obra é repleta de simbologias.
O universo sonoro é especial por nos envolver nos sons da natureza mesclados a uma trilha sonora maravilhosa! A dinâmica da família nos leva ao interior daquela floresta no século XVII.
É como se estivéssemos em volta de uma fogueira ouvindo relatos e contos de época sobre magia, animais falantes, bruxas e o confronto entre o bem e o mal. A imaginação preenche os espaços quando o desconhecido e o medo nos ronda. Medo de Deus, medo do Diabo, medo da morte, medo do abandono, medo da rejeição, medo da fome, em suma medo.
A culpa, também, é um sentimento que persegue os personagens e os joga contra si mesmos e uns contra os outros. Observamos, por meio dela, a competição e a manipulação tomarem forma. Os integrantes da família passam a se digladiar lançando mão daquilo que veio do mundo externo para o seu interior por meio de acusações.
Além do demônio e a bruxa, algo os assombra ainda mais: a sexualidade. Como é possível, para uma família puritana em completo isolamento no meio da floresta, constituída por pai, mãe e cinco filhos lidar com esse contexto? A Bruxa é, acima de tudo, sobre isso.
Sinopse e Análise (Com Spoilers)
A trama de A Bruxa começa com uma família, liderada pelo pai William e a mãe Katherine, que é expulsa de sua comunidade puritana devido a divergências religiosas.
Eles se estabelecem em uma fazenda isolada perto de uma floresta densa. Logo após se mudarem, começam a experimentar eventos estranhos e aterrorizantes, incluindo o desaparecimento de seu filho mais novo, Samuel, que é levado por uma bruxa que vive na floresta.
À medida que a história avança, a tensão aumenta entre os membros da família, especialmente entre a filha mais velha, Thomasin, e sua mãe, que a culpa por tudo o que acontece.
A paranoia se intensifica, levando a acusações de bruxaria e à desconfiança entre eles, culminando em um trágico desfecho.
A Simbologia dos Animais
É fundamental para a construção da narrativa e a exploração dos temas centrais do filme
Cada animal representa diferentes aspectos do medo, da tentação e da luta entre o bem e o mal, contribuindo para a atmosfera opressiva e a tensão psicológica que permeiam a história. Aqui estão algumas considerações sobre a importância dessa simbologia:
Temas de Temor e Paranoia
Os animais, como o bode (Black Philip), o corvo, o coelho e os pássaros, simbolizam a presença constante do mal e o medo do desconhecido.
O bode, em particular, representa a tentação e a sedução do diabo, instigando os personagens a questionarem suas crenças e a se desviarem de seus valores puritanos.
Essa dinâmica reflete a paranoia que permeia a vida da família, onde cada elemento natural pode ser visto como uma possível manifestação do sobrenatural.
Conexão com o Sobrenatural
A presença dos animais estabelece uma ligação entre o mundo natural e o sobrenatural.
Eles atuam como mensageiros ou símbolos de eventos sinistros, indicando que a linha entre a realidade e o oculto é tênue.
Essa conexão é especialmente evidente na figura de Black Philip, que transcende a natureza animal para se tornar um ícone do mal.
A transformação de animais em representações do sobrenatural destaca a fragilidade das normas sociais e a vulnerabilidade dos personagens.
Crítica à Moralidade Puritana
A simbologia dos animais também serve como uma crítica à moralidade rígida da sociedade puritana.
O bode e os pássaros, como representações do mal e da tentação, desafiam as crenças e valores dos personagens, revelando a hipocrisia e a fragilidade da fé.
A luta da família contra essas forças externas reflete a luta interna de cada membro em relação a seus próprios medos e desejos.
Em resumo, a simbologia dos animais em A Bruxa é essencial para a profundidade emocional e temática do filme.
Eles não apenas enriquecem a narrativa, mas também oferecem uma reflexão sobre a natureza humana, a moralidade e a luta contra forças que desafiam a razão e a fé.
Essa complexidade torna A Bruxa uma obra rica em significados, que convida os espectadores a explorar suas próprias interpretações e medos.
O Corvo
Símbolo do Mal e da Morte
O corvo, especialmente na figura de Black Philip, representa a presença do mal e a tentação.
Ele é associado a presságios e à morte em várias culturas.
No filme, o corvo é uma manifestação do poder sobrenatural que influencia e manipula os personagens, especialmente Thomasin, levando-a a questionar sua fé e moralidade.
O Coelho
Símbolo de Fertilidade e Vulnerabilidade
Os animais também simbolizam a vulnerabilidade da humanidade diante das forças externas.
O coelho, por exemplo, representa a fragilidade da inocência e a luta pela sobrevivência e é um símbolo ambivalente.
Por um lado, pode representar fertilidade e crescimento, mas no contexto do filme, sua presença também sugere vulnerabilidade e a fragilidade da inocência.
A cena em que o coelho é caçado reflete a luta pela sobrevivência e a natureza predatória que permeia a história.
O Cavalo
Símbolo de Liberdade e Força
O cavalo, embora não tenha um papel central no filme, pode ser visto como um símbolo de liberdade e força.
No entanto, sua presença também pode ser interpretada como uma representação da luta e do esforço da família para sobreviver em um ambiente hostil.
A relação com o cavalo reflete as tensões e os desafios enfrentados pela família, simbolizando a luta contra forças externas e internas.
O Bode
Símbolo do Mal e da Tentação
O bode, especialmente na forma de Black Philip, é uma representação clara do diabo e das forças malignas.
Black Philip instiga a família a questionar sua fé e a se desviar de seus valores puritanos.
Ela simboliza a sedução do pecado e a tentação de se entregar ao lado sombrio.
A figura do bode é um ícone associado à bruxaria e ao oculto, reforçando a ideia de que o mal pode se disfarçar de maneira atraente e sedutora.
Os Pássaros
Símbolo de Liberdade e Presságio
Os pássaros no filme podem ser vistos como símbolos de liberdade, mas também como presságios de morte e desgraça.
A presença deles, em especial quando aparecem mortos, sugere a fragilidade da vida e a inevitabilidade da morte.
Além disso, a dinâmica entre os pássaros e os humanos reflete a conexão entre o mundo natural e o sobrenatural, onde os pássaros podem atuar como mensageiros ou indicadores de eventos sinistros.
Freud Explica (Leitura Psicanalítica)
A leitura psicanalítica de A Bruxa revela a complexidade das relações familiares, os conflitos internos e a luta pela identidade em um mundo repleto de repressão e medo.
O filme explora como os desejos reprimidos e as dinâmicas de poder podem levar à desintegração da unidade familiar e à transformação dos indivíduos.
Através dessa lente, A Bruxa se torna não apenas uma narrativa de terror, mas também uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os conflitos que habitam a psique.
1. Conflito entre o Id, Ego e Superego
Como a figura central, Thomasin representa a luta entre o id (desejos e instintos) e o superego (normas e moralidade).
Sua jornada revela a tensão entre seus desejos naturais de liberdade e a pressão das expectativas familiares e sociais.
O superego, representado pela rígida moral puritana de sua família, se torna opressivo, levando-a a uma crise de identidade e a um confronto com seus instintos mais primitivos.
2. A Mãe
A figura materna de Katherine é complexa e multifacetada.
Sua obsessão pela proteção da família e sua culpa pela perda de Samuel a tornam uma representação do que Freud chamou de mãe devoradora.
Essa figura materna pode ser vista como uma fonte de opressão para Thomasin, que busca autonomia em um ambiente sufocante.
Há uma luta de Thomasin para se afirmar e se libertar das expectativas maternas, ao mesmo tempo em que busca a aprovação e o amor de sua mãe.
3. A Projeção do Medo
As provocações de Mercy e de seu irmão gêmeo em relação a Thomasin podem ser vistas como uma projeção dos medos e ansiedades da família.
Eles externalizam a culpa e o medo que sentem em relação ao sobrenatural, transformando Thomasin em um alvo.
Essa dinâmica reflete como as crianças, em sua inocência, podem ser influenciadas pelas tensões emocionais dos adultos ao seu redor, manifestando esses sentimentos através de comportamentos de bullying e acusações.
4. Simbolismo dos Animais
O bode, representando Black Philip, e a bruxa simbolizam o lado sombrio da psique humana.
Black Philip, como uma manifestação do desejo reprimido e da tentação, instiga Thomasin a confrontar seus instintos e a explorar sua identidade além das normas sociais.
A bruxa, por sua vez, representa a sedução do inconsciente e os medos primordiais que habitam em todos os indivíduos.
A interação de Thomasin com esses símbolos reflete uma luta interna entre a aceitação de sua verdadeira natureza e a conformidade às expectativas sociais.
5. A Questão da Identidade
A evolução de Thomasin ao longo do filme pode ser vista como uma jornada de autodescoberta e emancipação.
À medida que a pressão externa aumenta e a família se desintegra, ela é forçada a confrontar sua verdadeira identidade.
Sua escolha final de se unir a Black Philip pode ser interpretada como uma aceitação de seus desejos mais profundos e uma rejeição das limitações impostas pela sociedade e pela família.
Pequeno Glossário de Elementos Simbólicos
A Floresta
O desconhecido e o medo. A floresta é um espaço onde as regras da sociedade não se aplicam, simbolizando a perda de controle e a conexão com o oculto.
O Leite e a Amamentação
Fertilidade e nutrição, mas também pode ser visto como uma metáfora para culpa e perda. A relação entre a mãe e seus filhos é central para o desenvolvimento da trama.
O Cesto de Pão
Sobrevivência e subsistência da família. A escassez de alimentos reflete a desintegração da unidade familiar e a luta contra forças externas.
A Cruz
Fé e proteção, mas também hipocrisia e fragilidade da crença. A cruz falha quando não consegue proteger os personagens das forças do mal.
O Fogo
Tanto purificação como destruição. O fogo é uma força ambivalente que pode trazer calor e luz, mas também pode consumir e devastar.
O Círculo de Bruxas
Conexão com o sobrenatural e prática da magia. O círculo é um espaço sagrado para rituais, simbolizando a transgressão das normas sociais.
A Criança (Samuel)
Inocência perdida e vulnerabilidade. A sua captura é um catalisador para os eventos trágicos que se desenrolam, simbolizando a fragilidade da infância diante do mal.
A Noite
Medo e desconhecido. A escuridão é um elemento constante que sublinha a tensão e o terror, simbolizando a luta entre o bem e o mal.
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